quinta-feira, 10 de junho de 2010

Luís Vaz de Camões



Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Luís Vaz de Camões

10 comentários:

  1. Que dizer?! O inesquecível Camões estará sempre dentro de nós.
    Até os velhos do Restelo se lembrarão, mesmo que não queiram.
    Romeiro

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  2. Está muito "amorosa"...

    Permita-me esta...


    Descalça vai para a fonte
    Leonor pela verdura:
    Vai formosa e não segura.


    Se tivesse umas chinelas
    iria melhor...; mas não:
    com dinheiro das chinelas
    compra um pouco mais de pão.
    Virá o dia em que os pés
    não sintam a terra dura?
    Leonor sonha de mais:
    vai formosa e não segura.

    Formosa! Não vale a pena
    ter nos olhos uma aurora
    quando na vida – que vida! –
    o sol se foi embora.
    Se os filhos se alimentassem
    com a sua formosura...
    Leonor pensa de mais:
    vai formosa e não segura.

    Há verduras pelos prados,
    há verduras no caminho;
    no olmo de ao pé da fonte
    canta, livre, um passarinho,
    Mas ela não canta, não,
    que a voz perdeu a doçura.
    Leonor sofre de mais:
    vai formosa e não segura.

    Porque sofre? Nunca soube
    nem saberá a razão.
    Vai encher a talha de água,
    só não enche o coração.
    Virá um dia... virá...
    Os olhos voam na altura
    Leonor não anda: sonha.
    Vai formosa e não segura.

    ;)

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  3. Ou então este, um pouco mais divertido:

    Voando vai para a praia
    Leonor na estrada preta.
    Vai na brasa, de lambreta.

    Leva calções de pirata,
    vermelho de alizarina,
    modelando a coxa fina,
    de impaciente nervura.
    como guache lustroso,
    amarelo de idantreno,
    blusinha de terileno
    desfraldada na cintura.

    Fuge, fuge, Leonoreta:
    Vai na brasa, de lambreta.

    Agarrada ao companheiro
    na volúpia da escapada
    pincha no banco traseiro
    em cada volta da estrada.
    Grita de medo fingido,
    que o receio não é com ela,
    mas por amor e cautela
    abraça-o pela cintura.
    Vai ditosa e bem segura.

    Com um rasgão na paisagem
    corta a lambreta afiada,
    engole as bermas da estrada
    e a rumorosa folhagem.
    Urrando, estremece a terra,
    bramir de rinoceronte,
    enfia pelo horizonte
    como um punhal que se enterra.
    Tudo foge à sua volta,
    o céu, as nuvens, as casas,
    e com os bramidos que solta,
    lembra um demónio com asas.

    Na confusão dos sentidos
    já nem percebe Leonor
    se o que lhe chega aos ouvidos
    são ecos de amor perdidos
    se os rugidos do motor.

    Fuge, fuge, Leonoreta
    Vai na brasa, de lambreta.

    :P

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  4. Olá “Romeiro”!
    Com que então madrugou …

    Sim, os velhos do Restelo, esses pessimistas, conservadores, … ainda os encontro aos “magotes” e não só no “Restelo”.

    Quanto a termos o Camões dentro de nós … bem me parecia que a culpa, das minhas calças encolherem, não era só da máquina de lavar :P

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  5. Olá, gente boa!

    Não “estou amorosa”, eu sou amorosa … às vezes ; )

    Também gosto desse poema, mas tentei escolher uns “menos conhecidos”.

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  6. Ai ai … gosto mais desta segunda versão, além de ser divertida, adoro o nome Leonor e lambretas :P

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  7. A Palmira tem horror
    A filetes de palmeta
    Gosta do nome "Leonor"
    e adora andar de lambreta!

    ;)

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  8. Nunca provei filetes de palmeta, o mais parecido que conheço é o linguado.

    Que bela quadra!
    Muito obrigada por este miminho : )

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  9. De nada...sempre às ordens de "Vocelência"!

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